Prefeitura do Rio contra Bienal do Livro: a censura nos tempos da web
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, determinou ontem que fossem recolhidos da Bienal do Livro da cidade, que começou em 30 de agosto, os exemplares da HQ "Vingadores – A Cruzada das crianças" por mostrar cena de um beijo gay. A organização do evento se negou a barrar qualquer tipo de conteúdo.
Em nome da pluralidade e as hashtags #Crivella, #Censura, #Bienal e #Vingadores rapidamente entraram para os assuntos mais comentados do momento. A atitude do prefeito gerou indignação e revolta e foi vista pela maioria dos internautas como uma tentativa de censura.
O efeito causado foi no mínimo interessante: a Bienal do Livro, que até então estava pouco comentada nas redes, de repente virou tendência e ficou por praticamente o dia todo entre os trending topics do Twitter no Brasil.
Quanto ao prefeito, ele fez a maior divulgação reversa da história da Bienal: não me lembro do evento ter sido tão comentado, discutido e mencionado nas redes sociais antes. A hashtag #LeiaComOrgulho foi usada pelos internautas para divulgar livros com temáticas ou personagens gays ou considerados impróprios. Houve uma avalanche de tuítes sobre livros, autores e liberdade de expressão, destacando o absurdo que é se falar em recolher livros em pleno século 21.
O assunto saiu das redes sociais e virou comentário na vida real. A jornalista Mariliz Pereira Jorge, por exemplo, destacou que a discussão sobre a censura dos livros entrou até no salão de beleza, conhecido por ser um espaço de conversas mais leves.
Na tarde de sábado, o prefeito derrubou a liminar que proibia o recolhimento de livros e mandou uma equipe armada à Bienal para recolher os livros, mas uma equipe contratada por Felipe Neto, auxiliada por voluntários, conseguiu distribuir todos os exemplares antes que a brigada do prefeito antiquado chegasse. Comentava-se muito que nem pra fazer censura o prefeito tem competência.
Memes sobre o assunto pipocaram no Twitter. Os mais compartilhados colocam o casal se beijando nos problemas da cidade para ver se o prefeito aparece pra resolver com a mesma rapidez que se dispôs a confiscar livros.
Por fim, no domingo, 08/09, o ministro do STF Dias Toffoli suspendeu a decisão judicial mais recente, vinda do TJ-RJ, que permitia novamente a apreensão de livros na Bienal.
Essa atitude desastrosa do prefeito de tentar impor censura a conteúdo em um ambiente literário pegou mal. Vivemos um tempo em que não cabe mais queima de livros; é medieval demais para os tempos do wi-fi.
Estamos evoluindo, e a leitura deve ser incentivada e não reprimida. Livros foram escritos para serem lidos e não queimados. A arte representa o mundo em que vivemos e um casal gay não é uma aberração, nem coisa de outro mundo. Você pode ver dois homens se beijando na rua, na festa de família, no desenho do livro. A arte é um reflexo do mundo em que vivemos, é vida.
Em entrevista para Universa, do UOL, o próprio Felipe Neto admitiu mais uma vez seus preconceitos do passado e que os livros ajudaram-no a repensá-los.
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